quarta-feira, 21 de maio de 2014

Memória Política


Carlos Acelino 



DICIONÁRIO DA MARIA II

Vocábulos e expressões açorianas



Retorno ao dicionário açoriano. Palavras e ditos que vivenciei e tanto me fascinam.


Zé Mané – caipira, pessoa simples, de pouca cultura e conhecimento.
Tanso – tolo, pateta, otário.
Levado da Casqueira – arteiro, travesso, aprontador.
Lambança – serviço mal feito, porcaria, sujeira (Aurélio); fofoca.
Pianço – som de quem tem asma, respiração ofegante.
Lambiscar – comer aos poucos, pequenas porções (Aurélio).
Escapatória – escape – sem saída.
Lambiçoca – comida mal feita, ou feita de sobras; gororoba.
Chaleirar – bajular, querer agradar.
Pustema – ferida purulenta, pústula.
Nascida – tumor, furúnculo
Furunco – furúnculo.
Boca aberta – tolo, desligado, otário, pateta.
Mala – pessoa má, sem escrúpulos, com índole para o mal.
Se qués qués, se não qués diz – se queres algo diga, expressão usada para pressionar alguém.
Carretão – rolimã, carrinho de madeira sem freios para descidas.
Manzanza – tolo, desligado, sem noção.
Ralhá – dar bronca, brigar com alguém.
Rabiola – rabo, cauda.
Rabar – errar.
Rango – comida, refeição.
Rapaz pequeno – guri, garoto, moleque.
Rapariga – menina adolescente.
Rapar – tirar a casca, levar tudo de algum lugar.
Ranhento – criança gripada, com bastante ranho.
Rebardaria – bagunça, desordem.
Rebuliço – confução bagunça.
Rego – bunda, ânus.
Relo – mal vestido, à toa.
Remelexo – comida feita com todas as sobras, mexidão; dança sensual
Siquinha – cadela, bucica.
Soca – espiga de milho, caule.
Serraz – serragem de madeira.
Rengo – maltrapilho, à toa, esfarrapado; também manco.
Responso – benzedura para encontrar coisas perdidas ou roubadas.
Rever – verter, colocar prá fora.
Rezistro – registro.
Ridico – sovina, mesquinho, ridículo.
Rizipela – erizipela, zipra, infecção aguda, febril.
Remedo – remédio.
Corre corre – carro, veículo, na linguagem das bichas.
Lavar as partes – tomar banho de assento, lavando apenas as áreas íntimas.
Lanhá – cortar superficialmente.
Langanho – coisa mole e viscosa, porcaria.
Lazera – sujeira, porcaria.
Leviano – leve, de pouco peso.
Ligeirinha – caganeira, diarreia.
Liso – esperto; copo de pinga.
Linguaruda – faladeira, bocuda, desaforada.

quarta-feira, 30 de abril de 2014

Memória Política

Carlos Acelino 


Brasil Cativeiro

“13.05.1888: Lei Aurea foi o estopim para a  Proclamação da República”.


     Por mais de 350 anos o Brasil foi o principal cativeiro do ocidente. Nesse período todo trabalho e riqueza gerados no país enriqueceu a Coroa Portuguesa, o Império Brasileiro, os grandes proprietários, fazendeiros da cana-de-açúcar e do café e os extratores de ouro e diamantes. Riqueza construída com sangue, suor e lágrimas. Fontes históricas registram que dez milhões de africanos foram sequestrados de suas casas, amontoados nos navios negreiros e traficados para o continente americano, 40% deles para o nosso país. Com o inicio da industrialização na Europa as relações de trabalho e emprego sofreram mudanças em todo o mundo. A Inglaterra, maior potência dos séculos 18 e 19, aboliu o trabalho escravo em 1807, impondo um processo de perseguição aos países que se sustentavam na escravidão. Navios ingleses patrulhavam o litoral brasileiro, atacavam os portos, confiscavam as cargas humanas e julgavam e condenavam nos tribunais ingleses os mercadores, devolvendo os cativos à África.

A perseguição sem trégua ao comercio escravocrata internacional gerou mudanças na consciência nacional contra os que viviam desse lucrativo negócio, os quais compravam um indivíduo por 30 mil réis e o revendiam aqui por 20 vezes mais.
Embora uma lei de 1831, tenha abolido oficialmente o trafico negreiro ela nunca foi respeitada. O Brasil, maior território escravista do hemisfério, foi o ultimo país a acabar com a escravidão. Os últimos embarques ocorreram por volta de 1856. A Lei Eusébio de Queiroz, 1850, ficou no faz de conta. Tendo proibido a importação de escravos, ela gerou um tráfico interno de mais 300 mil homens. Donos dos engenhos de açúcar em decadência no nordeste passaram a vender seus escravos para os barões do café de São Paulo e Minas e o preço do mercado escravista triplicou de 1855 a 1875. O movimento abolicionista iniciou com o pioneiro Luís Gama, negro vendido pelos pais em dificuldades financeiras, que sentiu a escravidão na pele tornou-se advogado e passou a defender sua raça nos tribunais. O Imperador Dom Pedro II tinha muitas reservas contra o movimento, temeroso de ferir os interesses da aristocracia rural que sustentava a monarquia e queria, em caso de abolição, indenização maior que todo o Orçamento do Império. Para os abolicionistas eram os negros que deveriam ser indenizados por todo o mal a que foram submetidos em vida. A Lei do Ventre Livre, 1871, declarou livres doravante todos os nascidos, os quais poderiam morar com seus pais nas senzalas até os 6 anos e após, deveriam ser entregues ao governo, por 600 mil réis, o que pouco aconteceu.
Para o controle foi instituído o registro de nascimento nas paróquias e a Igreja Católica, em conivência com os escravocratas, fraudava as Certidões de Nascimento. Onze anos após a Lei apenas 58 crianças tinham sido devolvidas em todo o país. As demais foram mantidas no trabalho escravo e nas senzalas.
Mesmo assim o movimento tomou corpo, sendo a campanha com maior participação popular de nossa história, levando multidões aos comícios e manifestações públicas, provocando acirrados debates no Parlamento e empolgando a consciência de toda a nação. Panfletos, manifestos e livros contra a escravidão eram produzidos aos milhares e associações abolicionistas se multiplicaram. Ao movimento se juntaram figuras históricas como Joaquim Nabuco, Olavo Bilac, José do Patrocínio, Castro Alves, Rui Barbosa e o engenheiro André Rebouças. Em 1884 um panfleto anônimo pregava que “a escravidão é irmã gêmea da monarquia”.
José do Patrocínio era um jornalista agressivo e polêmico e Joaquim Nabuco filho do Padre João Carlos Monteiro, vigário de Campo dos Goitacazes, Rio de Janeiro, com uma de suas inúmeras escravas, das quais usava e abusava, tendo com elas inúmeros filhos, situação não diferente em todos os cantos do país. A igreja por seu lado fazia vistas grossas à escravidão e só se manifestou publicamente contra ela em 1887, pedindo a Isabel que o exército não mais fosse usado para caçar os escravos fugitivos, que já somavam cerca de 10 mil só em São Paulo.
Em 1885 saiu a Lei dos Sexagenários, libertando os poucos escravos que sobreviveram até os 60 anos. Para o movimento abolicionista libertá-los no fim da vida era abandona-los à própria sorte, justamente quando mais precisavam da ajuda de seus senhores. No ano de 1884, as Províncias do Ceará e Amazonas foram as primeiras a abolir a escravidão. Um episódio marcante chocou todo o país e acelerou a campanha. Em 1886, cinco cativos foram presos em Paraíba do Sul, Rio de Janeiro, acusados de matar o capataz. Um deles pegou prisão perpétua e os demais foram condenados a trezentas chibatadas, pena tão pesada, que levou três dias para ser cumprida. Ao final, os quatro foram obrigados a voltar a pé para as fazendas onde trabalhavam; dois deles morreram no caminho e os outros dois desmaiaram e foram transportados em carro de boi. Com o movimento em grande ebulição, medidas paliativas já não surtiam efeito e davam sinal da proximidade da libertação. Em junho de 1887 o Imperador, cansado e doente, foi para a Europa, deixando a regência do trono com a filha, Princesa Isabel. Com a batata quente nas mãos a princesa, pressionada até pelos dois filhos, libertou os escravos de Petrópolis, capital do Império e no 13 de maio assinou a Lei Áurea, abolindo a escravidão mas não o seu legado. Um legado de preconceitos e luta pela sobrevivência e melhores condições sociais, que perdura até hoje.

Fontes: Laurentino Gomes, “1889”; Mary Del Priori e Renato Venâncio, “Uma Breve História do Brasil”