terça-feira, 29 de novembro de 2011

MEMÓRIA POLÍTICA


 Carlos Acelino 


NOSSA TERRA, NOSSOS BAIRROS


Muitos cidadãos de São José desconhecem sua identidade domiciliar. Há uma grande confusão acerca dos nomes dos bairros, alguns dos quais são confundidos com os nomes dos loteamentos que os geraram. É o caso do bairro São Pedro, popularmente conhecido, e que não existe, uma vez que o loteamento São Pedro foi idealizado no bairro Areias. Muitas pessoas residem no bairro Pedregal e acham que estão em Potecas. Munícipes do bairro Ipiranga acreditam morar no Real Parque e ninguém em São José conhece o bairro Jardim Santiago. Acompanhando o costume antigo de nominar de bairros os loteamentos abertos, muita gente diz morar no Dona Wanda, que fica dento do bairro Serraria, ou no Catarina, que integra os bairros de Potecas, Real Parque e Pedregal. Para dirimir essas distorções passaremos a contar a história de nossos bairros e traçar seus limites reais, definindo de uma vez por todas os perímetros urbanos e rural de São José, que foram claramente definidos pelas leis 3.514/2000, alterada pela 4.600/2007. O bairro Solemar não existe legalmente. O loteamento Solemar foi construído no hoje bairro Jardim Cidade de Florianópolis e o Pedregal não é um primo pobre do bairro Ipiranga. É um bairro belíssimo, de relevo ímpar, com identidade e autonomia próprias, esquecido no tempo por ser área periférica de Barreiros, outrora conhecida pela violência, mas hoje um grande conglomerado de cidadãos de bem e pessoas trabalhadoras e de boa índole. E o Dona Wanda? Não é bairro, assim como o Zé Nitro e o Zanellato. São apenas loteamentos que integram o bairro Serraria. Forquilhinha e Serraria não têm “s”. Vejo hoje no jornal a inauguração de um supermercado em Forquilhinhas, e me pergunto: Aonde fica?. A partir de agora você não terá mais dúvidas de onde estará pisando. Nossos bairros são lindos, ricos em labor, tradição e costumes que engrandecem toda uma cultura hospitaleira, caracterizada pelo coração aberto do açoriano. Como o santo padroeiro da Cidade, nosso povo, distribuído em 27 Bairros nos três Distritos, é amável, carinhoso, solidário, amigo e acolhedor.


 
JARDIM SANTIAGO: O MENOR BAIRRO DE SÃO JOSÉ


Totalmente desconhecido dos josefenses, o Jardim Santiago é bucólico, aconchegante, litorâneo e diminuto. Ele engloba aquela faixa de areia e mar, iniciada na foz do rio Três Henriques, margeada pelo costão, no passado “Praia das Fernandes”, onde morava o seu Dedé e tinha o pasto da Dona Lolô, mãe do falecido Gido gaiteiro, que tantos da minha geração conheceram. Ele inicia na foz do rio Três Henriques, segue pela orla marítima até o canal próximo à rua Domingos Pedro Hermes. Pelo canal, até a BR 101. Por esta, até o rio Três Henriques. Por este até sua foz na Baía Norte. Resumindo, é aquela parte pequena de terra a beira-mar, pelo lado de baixo da BR 101, onde outrora se tirava berbigão com enxada. Engloba, portanto apenas cinco ruas: parte da rua Heriberto Hulse ou Rua Velha de Barreiros, a rua Padre Anchieta, a rua Nivaldo José de Andrade, que inicia no viaduto da BR 101 e é cortada pela Heriberto Hulse, mas continua cem metros após, indo até o mar, a rua Primeiro de Maio e a rua Justina de Miranda. Portanto, dá até para contar as casas, os residentes e até os cachorros do bairro Jardim Santiago. O carinho desse pequeno povo é imenso, o coração de todos os que sobreviveram relembra aquela pequena localidade, que era um pasto de propriedade de Pedro Rita, e no passado fazia parte da Vila Espírito Santo, indo até a Vila Santa Rita, hoje rua São Benedito. Foi ali que me criei, em frente à casa do Teodomiro, cidadão folclórico, muito conhecido, que atendia muita gente e lhes preparava infusão de ervas para a cura de várias doenças. Acelino Pereira, meu pai, ali construiu sua primeira casinha no meio do pasto em 1962, na estrema da casa do Zé Coleira e bem próximo da casa do pai do Cici, dono do Bar que ainda hoje funciona no início da rua São Pedro. Dona Doraci, viúva de Teodomiro, alguns de seus filhos e netos ainda moram lá, Jorge Amaral, o Caveira, ainda está lá e a Zilda do Lourinho gaiteiro, que tocava chocalho com ele, mora lá, na rua Justina de Miranda, que foi sua tia e mãe de criação, numa infância feliz às margens do Três Henriques. Lembro que meu pai dizia que a rua Primeiro de Maio era uma “filha paralítica da prefeitura”, pois o falecido Aurino Meira, que cuidava de todas, nunca passava a patrola lá. Foi no Jardim Santiago que o padre Justino Cortgens iniciou sua grande obra de evangelização em Barreiros, ao chegar da Holanda. Instalou-se na igreja Nossa Senhora de Lourdes, na rua Heriberto Hulse e construiu a casa paroquial em frente, do outro lado da rua, ao lado da casa do Zé Tortinho. Ali, tempos depois vieram morar padre Claudio, que tinha um jipe e o padre também holandês Agostinho Va Velsen, e futuramente o padre Agostinho Sielski, que edificou o instituto São José, que era um seminário, mais tarde vendido para o município na gestão de Gervásio Silva, onde hoje funcionam a Cidade da Criança e a Secretaria de Infraestrutura, quase em frente ao cemitério de Barreiros, do outro lado da BR. O bairro Jardim Santiago resiste ao tempo, para contar a história do seu Dedé, da Dona Lolô e da Dona Doca, matriarca dos Santiago, cujo filho Nilton Medeiros Santiago foi candidato a Prefeito pelo MDB contra Geci Thives em 1976 e sua filha Zulma Santiago Floriani, pioneira da educação particular em São José, ali construiu e dedicou toda uma vida ao Colégio Padre Agostinho.