Política de Outrora
Antes de 1930
O regime monárquico brasileiro, que
perdurou de 1841 a
1889, tinha em D. Pedro II
o Chefe do Poder Moderador e Chefe do Poder Executivo, cuja função era delegada
aos Ministros de Estado.
Dois
partidos políticos (Conservador e Liberal), revesavam-se no poder, segundo o
resultado das eleições, que determinava maioria no Parlamento.
Em 15 de
novembro de 1889, as Forças Armadas decretaram a extinção do regime monárquico
e instalaram a República. A Velha República se perpetuou no poder por quase 41
anos, num único partido, o Republicano, não permitindo que as forças políticas
adversárias se organizassem ou formassem outros partidos.
A política
do café com leite dominou todo esse cenário. Antônio Machado, o Machadinho me
disse em seu depoimento, que São Paulo tinha tanto café, que a locomotiva
Santos – Jundiaí era movida a café. Apenas São Paulo e Minas Gerais ocupavam a
Presidência da República. Era o poder das oligarquias e do coronelismo, a
política dos grandes proprietários de terras e dos produtores rurais.
A classe média urbana emergente, com o início da
industrialização do país, crescia de forma assustadora, mas dispersa, encarada,
portanto, como minoria e não conseguia se organizar para tomar parte nas decisões
políticas. Afinal, a elite industrial aderiu às oligarquias, enfraquecendo o
operariado e solapando seus mais elementares direitos: salários dignos,
previdência, horário de trabalho, higiene e moradia. O rodízio de figurinhas
carimbadas nas casas do Parlamento e nos cargos executivos fomentava as
críticas de que a República, embora fosse um sistema político propalado de
“democracia liberal”, na prática funcionava como regime totalmente fechado,
inacessível, pior do que o regime monárquico.
Os coronéis
tomavam todas as decisões importantes do país e revezavam no poder seus
políticos de cabresto. A República aos poucos ia apodrecendo e capitalizando
descontentamentos de norte a sul do país, que desaguaram nas revoltas
tenentistas de 1922, 1924 e 1925, na Coluna Prestes e na Aliança Liberal, 1930,
que se expandiu do Rio Grande do Sul ao Nordeste, sólida em Minas e na Paraíba.
Os jovens
oficiais foram peças importantes no processo, absorvendo os descontentamentos
populares e passaram a desempenhar o papel de protetores da classe média
subestimada.
Durante os
quase 41 anos da Velha República, os partidos políticos serviam apenas para
fornecer legendas aos lideres das oligarquias, rechaçando o proletariado
sofrido, em franca expansão. Em 1889 o Brasil tinha 60.000 operários. Em 1930,
cerca de 1.000.000; todos na expectativa de mudanças sociais profundas,
principalmente nas relações empregador/empregado. Getúlio teve êxito em seu
intento, ao sagrar-se líder da grande massa marginalizada do poder.
Com tal
quadro, o êxito da Revolução desencadeada pela Aliança Liberal iria doravante
contar a história do Brasil de duas maneiras: o país de antes e o de depois de
1930.
Santa
Catarina não fugiu desse contexto. Pior, a proclamação da República no Estado,
com a extinção do Poder Legislativo, deu-se em forma de junta governativa,
indicando, em 17 de novembro, direto do Rio de Janeiro os nomes do coronel João
Batista de Albuquerque, Raulino Horn e Alexandre Bayma. A extinção do legislativo na proclamação já
prenunciava a que vinha o novo regime.
A primeira
legislatura catarinense da Republica foi instalada em 28.04.1891, para elaborar
a Constituição Estadual, tendo na presidência um ilustre josefense: Francisco
Tolentino, deputado estadual por seis legislaturas, desde 1878, tendo sido
também vereador em São Jose
de1873 a 1877 e de 1877 a
1890. Na segunda Mesa Diretora da Assembléia, novamente um josefense assumiu a
presidência: o deputado estadual por seis vezes, desde 1878, Eliseu Guilherme
da Silva, de Picadas do Norte, federalista e abolicionista, o qual em
15.09.1892 foi eleito de forma indireta 1 º Vice-Governador, tendo exercido a função de Governador, de
28.07.1893 a 24.08.1893, na vaga do titular.
O
envolvimento de nosso Estado na guerra civil chamada Revolução Federalista, em
1893 e 1894, em parceria com o Paraná e o Rio Grande do Sul, culminou com a
deposição de Lauro Muller, governador nomeado em 1889, e eleito pelo voto
indireto em 1891. Em seguida, Floriano Peixoto nomeou Moreira César governador
do Estado, em abril de 1894, quando ocorreu, a seu mando o fuzilamento de 183
pessoas na ilha de Anhatomirim. Entre as vítimas outro ilustre cidadão de São
José, o coronel Luiz Gomes Caldeira de Andrade, federalista convicto, que
combatera na Guerra do Paraguai, e era filho de Jose Bonifácio Caldeira de
Andrade, vereador por São Jose, de 1837 a 1841.
A
Constituição de 1891, disputada por republicanos e federalistas, consagrou nas
urnas a vitória dos republicanos, que se organizaram em partido único, o
Partido Republicano, aqui chefiado por Lauro Muller. As correntes contrárias
eram lideradas por Hercílio Luz.
Era o
governo de poucos, que se perpetuaria até 1930. De um lado, Lauro Muller, do
outro, Hercílio Luz, ambos representantes das oligarquias, que se revezavam nos
cargos públicos. Em torno dos dois o poder político da elite local se firmava,
mantendo os seus representantes costumeiros, sempre os mesmos.
O quadro a
seguir nos dá uma idéia de como o poder era dividido em Santa Catarina. As
cinco principais figuras políticas da época alternaram-se, de 1889 a 1937, ora nas funções
executivas, ora nos cargos legislativos de representação federal.
VELHA
REPÚBLICA - Rodízio do Poder pelos Representantes das Oligarquias
Catarinenses - 1889 - 1937
|
|||
Período
|
Personagem
|
Cargo
|
|
1889/1890
|
Lauro Müller
|
Governador nomeado
|
|
1891
|
Lauro Müller
|
Governador eleito de forma indireta.
Renunciou ao mandato.
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|
1891
|
Gustavo Richard
|
Vice-Governador eleito com Lauro Müller
substitui o titular, que se elegeu Deputado Federal.
|
|
1891/1893
|
Felipe Schmidt
|
Deputado Federal
|
|
1891/1897
|
Vidal Ramos
|
Deputado Estadual
|
|
1891/1899
|
Lauro Müller
|
Deputado Federal
|
|
1894/1898
|
Hercílio Luz
|
Governador eleito
|
|
1895/1902
|
Vidal Ramos
|
Superintendente Municipal (Prefeito) de
Lages
|
|
1896/1899
|
Vidal Ramos
|
Deputado Provincial
|
|
1898/1902
|
Hercílio Luz
|
Presidente do Conselho Municipal (Câmara)
de Florianópolis
|
|
1898/1902
|
Felipe Schmidt
|
Governador eleito
|
|
1898/1904
|
Gustavo Richard
|
Membro do Conselho Municipal de
Florianópolis (Vereador)
|
|
1900/1902
|
Lauro Müller
|
Senador da República
|
|
1900
|
Gustavo Richard
|
Como Vice-Governador nomeado, substitui
Lauro Muller, que vai para o Senado.
|
|
1900
|
Hercílio Luz
|
Deputado Federal
|
|
1900/1918
|
Hercílio Luz
|
Senador da República
|
|
1902
|
Lauro Müller
|
Governador eleito - Vice, Vidal Ramos.
Licenciou-se
|
|
1902
|
Lauro Müller
|
Ministro da Agricultura, Comércio e Obras
Públicas
|
|
1902/1905
|
Vidal Ramos
|
Substitui Lauro Müller como Governador,
que se licenciou para ser Ministro.
|
|
1903/1906
|
Gustavo Richard
|
Senador da República
|
|
1903/1914
|
Felipe Schmidt
|
Senador da República
|
|
1906/1910
|
Gustavo Richard
|
Governador eleito
|
|
1906/1910
|
Vidal Ramos
|
Deputado Federal
|
|
1906/1914
|
Lauro Müller
|
Senador da República
|
|
1910/1914
|
Vidal Ramos
|
Governador eleito
|
|
1912/1915
|
Gustavo Richard
|
Deputado Federal
|
|
1914/1917
|
Lauro Müller
|
Ministro das Relações Exteriores
|
|
VELHA
REPÚBLICA - Rodízio do Poder pelos Representantes das Oligarquias
Catarinenses - 1889 - 1937
|
|||
Período
|
Personagem
|
Cargo
|
|
1914/1918
|
Felipe Schmidt
|
Governador eleito
|
|
1915/1927
|
Vidal Ramos
|
Senador da República
|
|
1917/1926
|
Lauro Müller
|
Senador da República. Ao mesmo tempo, como
oficial do Exército, recebeu todas as patentes, de Tenente à
General. Faleceu no exercício do mandato
de Senador.
|
|
1918
|
Lauro Müller
|
Governador eleito - Vice, Hercílio Luz
|
|
1918/1920
|
Adolfo Konder
|
Secretário da Fazenda, Viação, Obras
Públicas e Agricultura do Estado.
|
|
1918/1922
|
Hercílio Luz
|
Assume o cargo de Governador, na licença
de Lauro Müller, que era Senador desde 1917.
|
|
1918/1926
|
Felipe Schmidt
|
Senador da República. Ao mesmo tempo, como
oficial do Exército, recebeu todas as patentes, de Tenente a General. Faleceu
no exercício do mandato.
|
|
1921/1926
|
Adolfo Konder
|
Deputado Federal
|
|
1922/1924
|
Hercílio Luz
|
Governador eleito. Faleceu no exercício do
mandato.
|
|
1926/1930
|
Adolfo Konder
|
Governador eleito - Vice, Walmor Ribeiro.
|
|
1927/1929
|
Vidal Ramos
|
Deputado Federal
|
|
1930
|
Nereu Ramos
|
Filho de Vidal elege-se Deputado Federal.
Preterido pela máquina do Partido Republicano, corre por fora e faz o dobro
da votação de Walmor Ribeiro, o Vice de Adolfo Konder. Adere à Revolução
|
|
1930
|
Adolfo Konder
|
Com a morte de Felipe Schmidt, em 10 de
maio, corre em busca da vaga e se elege Senador da República. A Revolução não
permitiu que assumisse.
|
|
1933/1935
|
Aristiliano Ramos
|
Interventor Estadual
|
|
1935
|
Nereu Ramos
|
Governador eleito pela Assembléia Estadual
Constituinte
|
|
1935/1937
|
Vidal Ramos
|
Senador da República
|
|
1935/1937
|
Adolfo Konder
|
Senador da República
|
|