quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Memória Política

Carlos Acelino 

Footing Na Ilha

       Na saída do Colégio Coração de Jesus, Dilma convidou as amigas para o footing na praça XV e desceram sorridentes a ladeira em direção à Felipe Schmidt. Encantadas com aquele final de tarde maravilhoso, não reparou o solteirão, que na calçada exclamava ao vê-la: “ – com esta mulher eu casaria! ”. Semanas após, a neta de João Nicolau Born, fundador de Biguaçu, pousou seus olhos azuis e sua graça prussiana em pleno cartório de notas da Capital. O Tabelião João Machado Pacheco Junior se apaixonou de imediato e não lhe deu mais trégua, passando a assediá-la diariamente e resolveu pedi-la em casamento, cumprindo o que afirmara no passeio. Apesar dos 18 anos de diferença na idade, casou-se com ela em 22 de julho de 1944 e viveram felizes até sua morte em São Paulo, 25 anos depois. No ultimo ato, Dilma Born trouxe seu corpo para sepultar na terra que ele tanto amara e que mudara sua vida para sempre, São Jose, onde foi morar em 1926, abriu sua farmácia, e foi prefeito por duas vezes nomeado e sagrado pelas urnas em 1936, para um curto período de democracia.
         O primeiro Prefeito eleito de São Jose nasceu em Tubarão em 23.12.1903. Em 1922 foi sorteado para o exército, fez suas malas e seguiu rumo à Capital para se apresentar no 14° Batalhão de Caçadores. Sua conduta exemplar propiciou o engajamento por mais 2 anos, servindo por 6 meses no Paraná e em São Paulo. Enquanto soldado, teve a  oportunidade para estudar, formando-se como farmacêutico seis meses após dar baixa, em 14.12.1925, no Instituto Politécnico de Florianópolis. Logo em seguida, alugou uma casa na Praia Comprida, e montou sua farmácia, que se tornou bem movimentada e procurada por todos. Em plena Revolução de 1930 já era homem de prestígio, conhecido e reconhecido na comunidade, quando foi convocado pelo exército, mobilizado por 40 dias, ocasião em que colocou ao pescoço o lenço vermelho do liberalismo com a legenda NEGO. Em 7 de janeiro de 1931, o Interventor Estadual Ptolomeu Assis Brasil o nomeou primeiro suplente de Juiz de Direito, cargo que exerceu ate 31 de dezembro. Em 24 de abril de 1933, foi nomeado pelo Interventor Aristiliano Ramos Prefeito de São José, no lugar de Gregório Phillipi, exonerado na mesma Resolução. Governou até 30 de abril de 1936, quando assumiu novamente, dessa vez como Prefeito eleito em 1° de março. Com o advento do Estado Novo, entregou o cargo a Nereu Ramos, que não aceitou e o manteve no poder até 31 de janeiro de 1941. Antes, porém, no dia 18, foi nomeado para a serventia vitalícia do oficio do 1°. Tabelionato de Notas e Oficial do Registro de Imóveis da Capital, tendo se aposentado na função em dezembro de 1958, ganhando trinta mil cruzeiros por mês. Foi no cartório que João reviu Dilma e não a deixou mais sossegada. Casaram-se apenas no civil, em cerimônia simples, em 22.12.44, indo residir na Avenida Rio Branco. De estatura alta e acima do peso normal, ele começou a ter problemas cardíacos sérios logo após a aposentadoria e procurou recursos mais avançados em São Paulo, para onde mudou-se em 1959 e residiu até seu falecimento. Da união com Dilma teve 3 filhos, Julio, João e José.


Formatura de JOÃO MACHADO PACHECO JUNIOR em Farmácia - 1925.


JOÃO MACHADO PACHECO JUNIOR - Foto de 1933.


segunda-feira, 10 de setembro de 2012

Memória Política

Carlos Acelino 


Paródias no Fogão


Nas noites de geada em Angelina, José Coelho Netto sentava-se na pontinha do fogão a lenha, ao centro da grande cozinha, com seu inseparável chapéu de feltro, bem escovado e, naquela lareira quentinha, parodiava músicas da época e cantarolava cantigas de sua própria imaginação. Vez por outra, espiava por baixo da aba do chapéu, a confirmar se suas filhas o estavam observando. À espreita, na porta do quarto, elas se amontoavam, deliciadas com as letras trocadas das músicas, engraçadas, picantes e inteligentes. Disfarçava a atenção das filhas, com um olhar cúmplice, e retomava a sua cantoria. Devidamente aquecido, lavava os pés na gamela, vestia suas sandálias de couro, subia na cadeira para ligar o rádio antigo, na Tupi de São Paulo. Num quarteirão de distância, todo o centro de Angelina podia ouvir Tonico e Tinoco.
Suas toadas humorísticas cativavam a todos, e a disposição para o trabalho não deixava as filhas paradas.
Nascido em Angelina aos 7 de fevereiro de 1899, filho de José Sezerino Coelho Júnior e Benta Floriana Coelho, desde cedo ajudava o  pai na lavoura , de onde herdou o capricho do agricultor certinho, dedicado, com bastante terra e farta colheita de milho, batata-doce, cana, aipim e hortaliças.
A casa onde nasceu e veio a falecer em 1973, ficava no centro do distrito, e era referência a todo político que visitasse Angelina.
Dois meses antes de falecer sua primeira esposa, Dona Maria José Pessoa Duarte, elegeu-se Vereador pelo Partido Liberal, junto com Francisco Goedert, fazendo todos os 157 votos na cidade. Nessa época já era pai de 6 filhos; Romualdo, Alda, Carlos, Zilda, Zenir e Osvaldo, recém-nascido, falecido.  Secretariou os trabalhos de instalação da Câmara Municipal de São José, em 30.04.36, ao lado do Dr. Mário de Carvalho Rocha, tendo sido eleito 1º Secretário da Mesa Diretora. Legislou até novembro de 1937, quando Getúlio fechou as casas legislativas de todo o país. Em  25.04.38 tomou posse como Intendente distrital de Angelina, função que exerceu por bastante tempo.
Casou-se novamente com Dona Leopoldina Sens, com a qual teve mais 8 filhos: Nilda, Maria Celina, Osni, Dilma, Zoraide, Zeneide, Nilto e Ivo, falecido ao nascer. De sua prole dois filhos elegeram-se vereadores no já município de Angelina. Osni Coelho elegeu-se para os mandatos de 1970/1973 e 1989/1992. O irmão Nilto foi vereador por 3 legislaturas consecutivas e  Presidente da Câmara. O genro, Ezequiel Garcia (casado com Zoraide) foi vereador, prefeito e vice-prefeito. Outro genro, Arno Koerich (casado com Nilda) foi eleito por duas vezes vereador.
Toda uma vida dedicada à luta pela sobrevivência e a servir as pessoas, sua casa era visitada constantemente por políticos da época, como o Prefeito João Machado Pacheco Júnior, Jaú Guedes da Fonseca, grande orador e secretário do interventor Nereu Ramos; Ivo Reis Montenegro, Osmar Cunha e Celso Ramos.
Embora tenha concluído apenas o 4º ano primário, tinha uma belíssima letra e escrevia bastante. Preocupado com a formação e o futuro dos filhos, formou dez deles como professores, seis dos quais se aposentaram na profissão.
Na emancipação de Angelina, ocorrida em 07.12.61, tornou-se tesoureiro municipal do Prefeito nomeado Antônio Machado (o Machadinho); o qual foi morar em sua residência e suas filhas aproveitavam a oportunidade para engraxar os sapatos de Machadinho, que sempre lhes dava uns trocados.
Nas missas dominicais, o vigário da Paróquia, Oscar Longen, filho de Angelina, tinha a ajuda de José, que as freqüentava com seu único terno de linho creme, bem passado e engomado e o inseparável chapéu de feltro escovado. Os churrascos das festas de Angelina eram famosos na região. Eles tinham a mão e o capricho de José Coelho Netto, que em todas elas era o responsável pelo preparo, o corte perfeito e o tempero das carnes, no espeto de pau. Baixinho, gordinho, alemão de olhos azuis e vivazes, sua simpatia e o zelo com que tratava o churrasco, faziam o sucesso das festas.
Quando Antônio Machado assumiu a Prefeitura, José Coelho Netto formou um comitê de apoio, com cidadãos que conheciam bem a região. Dele faziam parte Osmar Koerich, Miguel de Souza, Leonardo Schmidt e Laudelino de Andrade. A liderança do grupo era de José, que percorria o município de jipe com Machadinho.
Nomeado exator de Angelina em 1955, aposentou-se pelo município que tanto ajudou, mas a pensão não ficou para a viúva. Após a eleição de seu filho Nilton, para vereador, ficou doente e foi internado no Hospital Florianópolis. Faleceu em 06.04.73 de câncer no esôfago, aos 73 anos, na véspera do casamento da filha Zoraide.
José Coelho Netto deixou um legado de trabalho e dedicação à causa pública. Mais do que justa a homenagem da cidade à sua memória: Na praça de Angelina, está o prédio da Prefeitura. E, numa placa, a referência maior ao ilustre cidadão josefense: Paço Municipal José Coelho Netto.

1ª Legislatura - Vereador JOSÉ COELHO NETTO


                JOSÉ COELHO NETTO e a 2ª esposa Leopoldina Sens



JOSÉ COELHO NETTO, com D. Leopoldina no casamento do filho Nilto com Zenir Koerich.
Os pais Osmar Koerich e Olinda Bunn posam à esquerda dos noivos. – 15.10.1966



           Casa de JOSÉ COELHO NETTO, Centro de Angelina.