Carlos Acelino
Um “Médium” na Presidência
Joaquim Vaz, todo de branco, abre a sessão, faz a imposição das mãos com os colegas e, em corrente de oração invoca os espíritos de luz.
O pequeno centro espírita na esquina da Santos Saraiva com a hoje servidão Homero de Miranda Gomes, no Estreito, aglutinava muitos amigos que vieram confortá-lo pela perda recente de sua filha Zulma, casada a menos de um ano.
Em transe mediúnico, fez contato com a filha falecida, em cujo diálogo lhe pediu, já que havia desencarnado tão cedo e nunca necessitou de herança, que ele construísse um asilo para abrigar velhinhos. Nascia naquela hora o Lar dos Velhinhos de Zulma, construído em grande área de Campinas, cujas terras pertenceram no passado ao seu pai, Bernardino Vaz.
A sociedade espírita Tereza de Jesus, construtora e mantenedora do Lar de Zulma, foi legalmente instituída em 18/01/1959 com sede provisória à rua Gaspar Dutra, 500, Estreito, nos fundos da casa de Joaquim. Viabilizada a venda da área do centro espírita na Santos Saraiva, ele iniciou uma campanha com seus amigos para construir um asilo.
Espírita fervoroso, de mediunidade rara, o primeiro Presidente da Câmara Municipal de São José podia empreender a jornada, pois além de possuir muitos amigos no Estreito, era um cidadão politicamente articulado e passara quase toda uma vida gastando a fortuna que seu pai, ao morrer, deixara para si e seus 5 irmãos.
Bernardino de Senna Vaz foi o homem mais rico da sua época. Dono de grande fazenda em Bom Retiro e imensas glebas no distrito josefense de João Pessoa (Estreito), acumulou uma fortuna incalculável, trazendo gado de sua terra natal, e vendendo carne para toda região do planalto e do litoral catarinense. Praticamente as terras da hoje região do Kobrasol eram suas, do inicio da Presidente Kennedy até o aeroclube, formando um grande pasto.
Várias glebas enormes no Estreito, na Ponta do Leal e Balneário formavam pastagens para a criação do gado, com grandes instalações para abate e conservação. O nome “Pasto do Gado” advém daí. Toda aquela região popularmente conhecida como “tripeiro”, formava um grande pasto para o gado de Bernardino, onde Elizeu di Bernardi trabalhava e controlava a criação, a produção, o abate e a distribuição, desde menino.
Tanto poder financeiro deu ao pai de Joaquim também o poder político: foi Conselheiro Municipal (vereador) de São José, de 1907 a 1910 e Presidente do Conselho Municipal (Prefeito), de 1915 a 1918. Não foi
à toa que Joaquim sagrou-se o vereador mais votado na eleição de 1936, aos 43 anos.
Com o fechamento das Câmaras Municipais em novembro de 1937, Joaquim afastou-se da política, nunca mais concorrendo a cargo eletivo, embora fosse uma liderança expressiva e respeitada no Estreito, continuando a atender as pessoas e destinando boa parte de seu dinheiro aos necessitados. Aquariano, natural de São José, onde nasceu no dia 11/02/1893, casou-se com Dona Malvina Vieira, filha de Fermino Vieira, irmã do tabelião Odilon Bartolomeu Vieira, cujo cartório Joaquim conseguiu com sua força de cacique eleitoral pessedista. Joaquim adotou Odilon de pequenino, pois o cunhado ficara órfão, sendo recolhido pela irmã Malvina.
Ao casar-se mudou-se para Bom Retiro mas sua esposa reclamava das dificuldades da pequena cidade. Fixou então residência no Estreito, perto da marinha, e alternava sua vida entre os cuidados com a fazenda e a cidade, onde se divertia em passeios diários do Estreito ao Ponto Chic com seus trajes impecáveis, bem ao seu estilo de moreno alto, cabelos pretos e sensível vaidade.
Teve 5 filhos: Afrísio, Ivan, Maria Leda, Zulma e Pedro Paulo, mais o filho adotivo Odilon, que também era seu cunhado.
Na época do “boom” da madeira na serra, com a extração e comercialização desordenada da araucária, montou uma serraria em Bom Retiro e no embalo dos negócios faturou uma boa grana. Na fazenda atendia as pessoas com sessões de cura espiritual e homeopática. Filas enormes se formavam para o atendimento, e as pessoas, além da atenção espiritual, recebiam comida e por muitas vezes eram convidadas a pernoitar.
Com a derrocada da devastação florestal retornou à sua vida cotidiana vivendo da grande fortuna herdada. Pagou a instrução de todos os filhos, que seguiram seu futuro sem a dependência paterna. Com a política apenas gastou parte de seu dinheiro. A única coisa boa que conseguiu para a família foi o Cartório para o filho adotivo e cunhado Odilon.
Entretanto exercia grande liderança no continente, tornando-se referência para os caciques da época, especialmente Nereu Ramos e Irineu Bornhausen, que embora adversários políticos eram seus amigos pessoais.
Joaquim Vaz, foi o primeiro Presidente da Câmara de São José e tomou posse em 30/04/36. Seu curto mandato durou até 10/11/1937, quando Getúlio fechou as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais do país, instalando o Estado Novo.
Apesar do pouco estudo, Joaquim Vaz tinha uma grande visão e não conheceu miséria em toda a sua vida. Viveu todos os noventa anos gastando a herança. O último pedaço da fazenda de Bom Retiro, vendeu um pouco antes de sua morte, ocorrida em 13 de maio de 1983, no Hospital Florianópolis, onde estava internado devido a um tombo que lhe quebrou a bacia. Inconformado com a duradoura internação foi ficando depressivo, vindo a falecer.
A família Vaz teve uma grande trajetória política em São José. Detentora do poder econômico detinha, por conseqüência o poder político, como de praxe na Velha República.
O pai de Bernardino, Joaquim Antonio Vaz (1º), avô paterno de nosso primeiro Presidente, veio de Palmas (PR) estabelecendo-se em Tijucas, município no qual também foi Vereador e Presidente da Câmara (1862-1864). Também foi Vereador por São José (1881-1883, 1887-1890), falecendo no transcorrer do ultimo mandato (26.06.1889).
Bernardino de Senna Vaz, pai de Joaquim, nasceu em Tijucas em 20.05.1855 e faleceu em Florianópolis em 02.08.1923. Foi Conselheiro Municipal de 1907 a 1910 e Superintendente Municipal (Prefeito), de 1915 a 1918.
João Vicente Vaz, irmão de Bernardino Vaz e tio de Joaquim, natural de Tijucas, onde nasceu a 19.07.1853, falecido em São José em 24.06.1941, também foi Vereador (1893/1894) e Conselheiro Municipal (1903/1906).
O outro tio de Joaquim, José Antônio Vaz, que nasceu em Tijucas (15.03.1852) e faleceu no Estreito, em 27.12.1914, também foi Vereador por São José (1887 a 1890), Intendente Municipal (1890 a 1892) e substituto do Superintendente Municipal (1903 a 1906 e 1907 a 1910).
Hildebrando Dinarte Vaz, irmão de Joaquim, nasceu em São José no dia 23.10.1895 e faleceu em Florianópolis em 15.06.1966 também foi membro do Conselho Consultivo (Câmara), de 1931 a 1936.
João Vaz Sobrinho, outro irmão de Joaquim, nascido em São José em 02.09.1884 e falecido no Estreito em 02.03.1931, também foi Conselheiro Municipal de nossa cidade, de 1927 a 1930.
O sobrinho-neto de Joaquim, João Vaz Neto, nascido em Florianópolis a 26.01.1938 e hoje ainda vivo, foi Vice – Prefeito do Município no mandato tampão de Constancio Krummel Maciel (14.05.1982 a 30.01.1983), quando Geci Thives renunciou, com seu vice, Waldir Assis Kretzer, para concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa.
A maioria da família Vaz está sepultada no cemitério de São José.
JOAQUIM VAZ, no Estreito, aos 70 anos, com o filho Pedro Paulo, a nora Regina e o neto Paulo Vicente, recém nascido
JOAQUIM VAZ na Lagoa, com os netos, fevereiro de 1979