quinta-feira, 23 de fevereiro de 2012

MEMÓRIA POLÍTICA

Carlos Acelino

1930 – 1945 – Era de Vargas


       Com a Constituição de julho de 1934, criou-se o novo Tribunal Eleitoral. No mesmo mês, Getúlio foi eleito pelo Congresso Nacional por um período até as eleições diretas, marcadas para janeiro de 1938. As eleições estaduais foram realizadas em outubro de 1934. As lideranças estabelecidas nos Estados principais se confirmaram: Armando de Sales Oliveira em São Paulo, Flores da Cunha no Rio Grande do Sul e Benedito Valadares em Minas. Iniciou-se nesta nova fase um autêntico radicalismo político: uma facção do Partido Comunista organizou a ANL – Aliança Nacional Libertadora, tendo Luiz Carlos Prestes como seu Presidente honorário. Mais de 1.600 sedes locais da ANL se firmaram até fins de maio de 1935. De outra parte, a direita, catalisada pelo Integralismo, movimento fascista, ganhou força, liderada por Plínio Salgado. Com os extremismos ganhando as ruas, o Congresso, cada vez mais conservador, votou, liderado por Raul Fernandes, a Lei de Segurança Nacional, dando ao governo federal poderes especiais para reprimir “atividades subversivas”. Em 5 de julho de 1935, Prestes, aproveitando o aniversário da primeira revolta federalista no Forte de Copacabana (1922), pronunciou violento discurso, alegando que o país precisava de um “governo popular revolucionário e antiimperialista”. No dia 13, Vargas respondeu à apelação: invadiu o quartel general da ANL, fechou-o por 6 meses, confiscou documentos, usados mais tarde para provar que a agremiação era financiada pelos comunistas. O Congresso, a esta altura, liderado por membros da classe média e da agricultura, estava apreensivo com a “ameaça bolchevique” e, pronto a dar a Vargas, poderes especiais para a repressão. Em fins de novembro de 1935, militares da ala revolucionária do Partido Comunista, promoveram uma quartelada nas guarnições de Natal e Recife, assassinando oficiais superiores, e Vargas esmagou o movimento, que se iniciou no norte, mas não atrelado ou engajado com os revolucionários do Sul. A 25 de novembro, o Congresso decidiu em favor do estado de sítio, pedido por Vargas. Em dezembro, a Câmara dos Deputados aprovou três emendas constitucionais: uma autorizando o Presidente a demitir sumariamente qualquer funcionário público; a segunda deu-lhe poderes absolutos sobre promoções nas armas e a terceira aumentou seus poderes especiais de emergência. O sistema político começava a fechar-se: a liderança do PC foi presa, seus escritórios invadidos, milhares de políticos suspeitos, tanto militares, como civis, foram aprisionados. De outra parte, Vargas mostrava conduzir o País para a eleição presidencial, marcada para janeiro de 1938; na qual ele não poderia reeleger-se. A União Democrática Brasileira, aliança política recém criada apoiava o bem sucedido governador de São Paulo, Armando de Sales Oliveira. José Américo de Almeida, antigo tenentista, romancista e político da Paraíba, que se destacava como um dos líderes da Aliança Liberal de 1930, dizia-se candidato do governo, mas sem o endosso de Getúlio. Vargas, entretanto ficava em cima do muro. Armando de Sales Oliveira tinha chances de emplacar. Vargas, sempre na manobra, sugeria discretamente apoiar José Américo. Os integralistas indicaram Plínio Salgado seu candidato em junho de 1937. Vargas continuava seu estratagema: fingia conduzir o país para as eleições, mas continuava isolando lideranças locais importantes: interveio no Mato Grosso, no Maranhão e no Distrito Federal, substituindo líderes eleitos por homens de sua confiança. Colocou o Rio Grande em estado de sítio, pois o governador Flores da Cunha, pretendia apoiar Armando de Sales Oliveira. O Congresso temeroso de que Vargas estivesse tramando, negou a renovação do estado de sítio em junho de 1937. Vargas, em troca, libertou prisioneiros ditos “subversivos” e a campanha tomou um rumo de violência dramático. Lutas de rua estouravam entre integralistas e a esquerda. Em agosto, 13 mortos resultaram de um conflito em Campos, Rio de Janeiro. O Presidente então apoiou-se no Exército, para montar o seu golpe. Já havia designado o general Eurico Dutra ministro da guerra em 1936. Em junho de 1937, o general Góes Monteiro, que iniciou a quartelada de 1930, foi nomeado Chefe do Estado Maior do Exército. Góes Monteiro entregou os comandos dos Estados oposicionistas a homens de sua confiança. Minava, com isso a oposição de Juraci Magalhães, na Bahia, Lima Cavalcanti, em Pernambuco, Flores da Cunha, no Rio Grande e os partidários de Armando de Sales Oliveira, em São Paulo.
        Góes Monteiro fabricou, então, o pretexto final para o golpe: o Plano Cohen, documento “descoberto”, elaborado pelos integralistas que se propunha a ser o plano de uma revolução comunista, entregue a ele, por um oficial integralista, o capitão Olímpio Mourão Filho. A 30 de setembro, Dutra denunciou a trama comunista e no dia seguinte o Congresso concedeu a suspensão dos direitos constitucionais, negada em junho.
        O Deputado Negrão de Lima foi enviado aos Estados indecisos, a fim de prepará-los para apoiarem medidas federais mais fortes. A 14 de outubro a milícia estadual de Flores da Cunha (a maior milícia estadual do País), foi federalizada no Rio Grande, por ordem de Góes Monteiro e do comandante local do Exército por ele indicado. A oposição local iniciava os preparativos para o “impeachment” do Governador e o mesmo fugiu para o Uruguai. A 8 de novembro, o ministro da justiça José Carlos de Miranda Soares demitiu-se. O golpe já estava marcado para 15 de novembro, data da proclamação da República. Em 9 de novembro Sales Oliveira fez um apelo ao Congresso e aos militares para que garantissem a ordem constitucional e a eleição programada para janeiro. No dia seguinte, tropas rodearam o Congresso fechando-o . Em 10 de novembro, Vargas promulgou uma nova Constituição, dando a si mesmo poderes autocráticos e prevendo um plebiscito para dentro de 6 anos, a fim de escolher um Presidente. Na sua fala pelo rádio, no mesmo dia, Vargas explicou que o Brasil devia deixar de lado “a democracia dos partidos”, que “ameaça a unidade pátria”. Descreveu o Congresso como sendo um “aparelho inadequado e dispendioso”, cuja continuação era “desaconselhável”. Era preciso instituir no País um “regime forte, de paz, justiça e trabalho”, e suspendeu os pagamentos de juros e amortizações da dívida externa. A 2 de dezembro de 1937, aboliu todos os partidos políticos.
       Em maio de 1938, um pequeno bando de integralistas atacou o palácio presidencial. Vargas esmagou a revolta, prendeu seus líderes, outros se exilaram.
       De 1938 até fins de 1944, o Estado Novo manteve-se com o apoio das Forças Armadas, a polícia de Vargas e a desorganização, a desmoralização e a debilitação da oposição.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

MEMÓRIA POLÍTICA

Carlos Acelino

São José: Evolução das Instituições


          Na época da Colônia, (1738 – 1822), Santa Catarina era administrada pelo Governador da Capitania. Da Independência à Proclamação da República (1822 – 1889), foi administrada pelo Presidente da Província, e, a partir da Constituição Estadual de 1928, pelo Presidente do Estado.
O município de São José, ocupado por 182 casais de portugueses vindos das ilhas Graciosa, São Miguel e de São Jorge, em 19 de março de 1750, somente foi reconhecido como freguesia em 26 de outubro de 1750, por Alvará Régio do Rei de Portugal. Denominou-se, portanto, São José da Terra Firme. A partir daí, seus habitantes passaram a participar da vida política da Vila de Desterro, na qual se integravam, disputando e votando nos cargos eletivos de vereadores, juizes de paz e juizes de órfãos.
Em 02 de setembro de 1829, chegaram os primeiros alemães a São José, instalando-se em São Pedro de Alcântara.
Em 1 º de março de 1833, resolução do Presidente da Província Catarinense elevou São José à categoria de Vila (município), desmembrando-a de Desterro, sendo o novo município formado pelas freguesias de São José e Enseada do Brito.
Em 13 de setembro de 1844, a Lei provincial 194 criou a freguesia de São Pedro de Alcântara, separando-a da Vila de São José, mas continuando a pertencer ao município.
A partir de 01.03.1833, foram implantados os poderes políticos na sede da Vila. Em 04 de maio do mesmo ano foi procedida a primeira eleição dos vereadores, tendo sido eleitos João Vieira da Rosa (Presidente da Câmara, por ser o mais votado), Silvestre José dos Passos, José da Silva Ramos, Gabriel José da Cunha, Joaquim Francisco Teixeira, Francisco da Costa Porto e Thomaz José da Costa. A eleição dos juizes de paz ocorreu em 16 de junho.
Desta forma, foram instalados os poderes políticos da Vila: Câmara Municipal (legislativo), Presidente da Câmara (executivo), Juiz de Órfãos, Subdelegado e Delegado de polícia (judiciário). O Presidente da Câmara exercia a função hoje atribuída ao Prefeito Municipal.
Portanto, o Poder Executivo josefense de 1833 a 1890, era exercido pelo Presidente da Câmara Municipal. Assim, o Presidente do Poder Legislativo era também Presidente do Executivo. Após a Proclamação da Republica, de 1890 a 1928, as Câmaras Municipais passaram a denominar-se Conselho de Intendência Municipal (1890-1892), Câmara de Vereadores (1893-1894), novamente Conselho de Intendência Municipal (1894) e, finalmente, Conselho Municipal, até sua extinção pela Revolução de 1930. Os Presidentes da Câmara denominavam-se Superintendentes Municipais, os quais exerciam as funções de Prefeito e Presidente da Câmara e nomeavam uma ou mais pessoas para substituí-los em suas ausências ou impedimentos.
            Com a Constituição Estadual de 1928, foram separadas as atribuições, sendo criada a figura do prefeito, que passa a ser eleito separadamente, e novamente os subprefeitos passaram a ser nomeados.
            O quadro a seguir detalha as funções a cada época.

Período
Executivo
Legislativo
Judiciário
1833/1889
Presidente da Câmara
      Câmara
Juízes de Paz, e de Órfãos, Juiz Municipal, Delegado
1980/1928
Superintendente
Conselho Municipal
Juízes de Direito e de Paz, Delegado
1928/2010
Prefeito
Conselho Consultivo (1930/1936), Câmara (1937/2010)
Juízes de Direito (Fórum)

Até a Independência as Câmaras Municipais eram eleitas pelas comunidades. Com a Constituição de 1824, a eleição passou a ser distrital, com impedimentos às mulheres, aos escravos e aos menores de 21 anos, critérios esses que vigoraram até 1834.
De 1824 a 1889, os eleitores votavam para vereadores e juizes de paz. A partir de 1890 passaram a votar nos vereadores denominados conselheiros municipais, no superintendente (prefeito) e nos juizes de paz.
Em 1930 Getúlio acabou com esse sistema, criando os Interventores Municipais, nomeados pelos Presidentes das Províncias e, no Estado Novo, pelos Interventores Federais nos Estados. De 1930 a 1936 os prefeitos passaram a ser nomeados pelo Interventor do Estado. Também no período o governo ditatorial criou os Conselhos Consultivos para auxiliar os prefeitos, com 3 membros, também nomeados.  A partir de 1934, foi instituído o direito ao voto secreto para as mulheres e os maiores de 18 anos.
Após a Revolução, o primeiro prefeito de São José, nomeado pelo interventor catarinense Ptolomeu Assis Brasil foi João Luiz Buchelle Júnior, que exerceu as funções por menos de um mês, até 24 de novembro de 1930. Para sucedê-lo foi nomeado Gregório Phillipi, que governou até 24.04.1933, transferindo o cargo pela mesma Resolução para João Machado Pacheco Júnior, que o exerceu de 1933 a 1941, sendo substituído em 1941 por Pedro Antônio Mayvorne (1941/1945). Seguiu-se o mandato de Antônio Policarpo Philippi (1945/1946). Arnoldo Souza comandou o município, por nomeação de Nereu Ramos, de 1946 à sua posse como prefeito eleito em 11.12.47, para um mandato até 1950.
Importante notar que de 1930 a 1947, São José teve quatro prefeitos nomeados. Como era praxe na ditadura, os prefeitos do agrado dos interventores eram mantidos nos cargos, o que ocorreu com João Machado Júnior, que foi nomeado em 1933, eleito e empossado na breve democracia de Getúlio (1936/1937) e renomeado em novembro de 1937, início do Estado Novo, por Nereu Ramos, Interventor Federal no Estado, permanecendo no cargo até 1941.
            Em 1° de março de 1936, ocorreu a primeira eleição para os cargos de vereador e prefeito. O cargo de vice-prefeito eleito somente surgiu na eleição de 03.11.69.
            Em São José foi eleito pelas urnas, o prefeito nomeado João Machado Pacheco Júnior com 1.330 votos, pelo Partido Liberal, contra 662 dados à aliança Comércio e Indústria por São José. Foram eleitos os 7 primeiros vereadores da Câmara contemporânea, 5 pelo Partido Liberal Catarinense, que elegeu o vereador mais votado, Joaquim Antônio Vaz, do Estreito (Distrito de João Pessoa), com 297 votos. A aliança Comércio e Indústria por São José elegeu apenas 2 vereadores. Joaquim Antônio Vaz tornou-se o primeiro Presidente da Câmara Municipal, sendo empossado com os demais vereadores e o Prefeito eleito em 30 de abril de 1936, mandato que se estendeu apenas até 10.11.1937, quando as casas legislativas de todo o país foram extintas e instituído o Estado Novo, de regime ditatorial.



sexta-feira, 10 de fevereiro de 2012

MEMÓRIA POLÍTICA

Carlos Acelino

A vida é bela


             Ele dizia sempre que queria viver até os cem anos. Levava a vida de forma desprendida. Tanto adquiria as coisas, como delas se desfazia. A velha gaita que muito bem sabia tocar, não existe mais. Deve ter vendido antes de morrer, quando já não mais poderia proporcionar alegrias. Alto, forte, corpulento, bonachão, Willibaldo Wesler tinha, acima de tudo, um grande coração. Festeiro, alegre, brincalhão, cativava a todos, pela facilidade em fazer amizades. Não foi à toa que se elegeu vereador por duas vezes em Alfredo Wagner e foi o mais votado em São José, na eleição de 1976, com 929 votos pela ARENA. No Governo de Geci Thives, foi seu principal articulador político. Tentou a reeleição em 1982 e 1988, sem êxito. Nos anos 70 viveu intensamente as emoções de poder acampar semanas inteiras com a família. Era sua grande paixão. Tinha uma casa completa e várias barracas. Não há praia da região que ele não tenha curtido. Deliciava-se em passar dias desfrutando as maravilhas de nossas belezas naturais. Nascido em Tubarão em 27.10.26, onde estudou até a quarta série, pertencia a uma família de mais onze irmãos. Casado com Marta, com quem teve os filhos Valdemar, Valdir e Dulce, foi morar em Braço do Norte. Com a separação da primeira esposa mudou-se para Alfredo Wagner, instalando-se no pequeno hotel da cidade e abriu seu consultório de dentista prático. Os pais Leonardo e Marta, foram para São Ludgero, com os demais irmãos. Na domingueira conheceu Aurina Medeiros, de Santo Amaro, onze anos mais nova, que por ele se encantou. Mulher de temperamento forte, foi morar consigo em casa alugada, na qual abriram um bar em sociedade com o cunhado, que lhe doou um terreno para construção da primeira moradia. Dos sete filhos deste segundo casamento, seis deles nasceram em Alfredo Wagner. Nove anos se passaram e vendeu a casa, comprando uma em Capoeiras. No lugar, bem povoado, melhorou as finanças como dentista. Um ano e meio depois, vendeu a casa de Capoeiras e comprou a última morada, na Rua Wanderley Júnior, Campinas. Fez muitos amigos em São José e sagrou-se Vereador. Com a atividade política, exerceu funções na CEASA e na Secretaria Estadual de Administração, no final dos anos 70. Cidadão de poucas posses,vivia razoavelmente, mais pobre do que rico, mas sempre trancado.
Willibaldo não satisfez seu desejo de vida longa, talvez pelo excesso de cigarros. Faleceu em casa aos 63 anos, pequeno e frágil, após várias internações no hospital Nereu Ramos, com câncer no pulmão. A fiel esposa Aurina nunca se afastou do leito até o último desenlace. Na descendência, além dos três filhos do primeiro casamento, temos Salete, casada com Wilmar Hinckel, Secretário de Finanças de São José por várias vezes; Valmir, solteiro; Vilmar, casado com Ivone; Valmor, casado com Tânia Justen; Vilson, Com Léia; Vanderlei, com Simone; e Sandra, esposa de Moosele.

Vereador WILIBALDO WESLER discursa – Ao lado, Deputado Lenoir Vargas Ferreira, Vice - Prefeito JOÃO VAZ, CONSTÂNCIO KRUMMEL MACIEL, Prefeito GECI THIVES e Deputado Fernando Viegas.

 

quarta-feira, 8 de fevereiro de 2012

MEMÓRIA POLÍTICA


Carlos Acelino

Um “Médium” na Presidência


Joaquim Vaz, todo de branco, abre a sessão, faz a imposição das mãos com os colegas e, em corrente de oração invoca os espíritos de luz.
            O pequeno centro espírita na esquina da Santos Saraiva com a hoje servidão Homero de Miranda Gomes, no Estreito, aglutinava muitos amigos que vieram confortá-lo pela perda recente de sua filha Zulma, casada a menos de um ano.
            Em transe mediúnico, fez contato com a filha falecida, em cujo diálogo lhe pediu, já que havia desencarnado tão cedo e nunca necessitou de herança, que ele construísse um asilo para abrigar velhinhos. Nascia naquela hora o Lar dos Velhinhos de Zulma, construído em grande área de Campinas, cujas terras pertenceram no passado ao seu pai, Bernardino Vaz.
            A sociedade espírita Tereza de Jesus, construtora e mantenedora do Lar de Zulma, foi legalmente instituída em 18/01/1959 com sede provisória à rua Gaspar Dutra, 500, Estreito, nos fundos da casa de Joaquim. Viabilizada a venda da área do centro espírita na Santos Saraiva, ele iniciou uma campanha com seus amigos para construir um asilo.
            Espírita fervoroso, de mediunidade rara, o primeiro Presidente da Câmara Municipal de São José podia empreender a jornada, pois além de possuir muitos amigos no Estreito, era um cidadão politicamente articulado e passara quase toda uma vida gastando a fortuna que seu pai, ao morrer, deixara para si e seus 5 irmãos.
            Bernardino de Senna Vaz foi o homem mais rico da sua época. Dono de grande fazenda em Bom Retiro e imensas glebas no distrito josefense de João Pessoa (Estreito), acumulou uma fortuna incalculável, trazendo gado de sua terra natal, e vendendo carne para toda região do planalto e do litoral catarinense. Praticamente as terras da hoje região do Kobrasol eram suas, do inicio da Presidente Kennedy até o aeroclube, formando um grande pasto.
            Várias glebas enormes no Estreito, na Ponta do Leal e Balneário formavam pastagens para a criação do gado, com grandes instalações para abate e conservação. O nome “Pasto do Gado” advém daí. Toda aquela região popularmente conhecida como “tripeiro”, formava um grande pasto para o gado de Bernardino, onde Elizeu di Bernardi trabalhava e controlava a criação, a produção, o abate e a distribuição, desde menino.
            Tanto poder financeiro deu ao pai de Joaquim também o poder político: foi Conselheiro Municipal (vereador) de São José, de 1907 a 1910 e Presidente do Conselho Municipal (Prefeito), de 1915 a 1918. Não foi
à toa que Joaquim sagrou-se o vereador mais votado na eleição de 1936, aos 43 anos.
            Com o fechamento das Câmaras Municipais em novembro de 1937, Joaquim afastou-se da política, nunca mais concorrendo a cargo eletivo, embora fosse uma liderança expressiva e respeitada no Estreito, continuando a atender as pessoas e destinando boa parte de seu dinheiro aos necessitados.           Aquariano, natural de São José, onde nasceu no dia 11/02/1893, casou-se com Dona Malvina Vieira, filha de Fermino Vieira, irmã do tabelião Odilon Bartolomeu Vieira, cujo cartório Joaquim conseguiu com sua força de cacique eleitoral pessedista. Joaquim adotou Odilon de pequenino, pois o cunhado ficara órfão, sendo recolhido pela irmã Malvina.
            Ao casar-se mudou-se para Bom Retiro mas sua esposa reclamava das dificuldades da pequena cidade. Fixou então residência no Estreito, perto da marinha, e alternava sua vida entre os cuidados com a fazenda e a cidade, onde se divertia em passeios diários do Estreito ao Ponto Chic com seus trajes impecáveis, bem ao seu estilo de moreno alto, cabelos pretos e sensível vaidade.
            Teve 5 filhos: Afrísio, Ivan, Maria Leda, Zulma e Pedro Paulo, mais o filho adotivo Odilon, que também era seu cunhado.
            Na época do “boom” da madeira na serra, com a extração e comercialização desordenada da araucária, montou uma serraria em Bom Retiro e no embalo dos negócios faturou uma boa grana. Na fazenda atendia as pessoas com sessões de cura espiritual e homeopática. Filas enormes se formavam para o atendimento, e as pessoas, além da atenção espiritual, recebiam comida e por muitas vezes eram convidadas a pernoitar.
            Com a derrocada da devastação florestal retornou à sua vida cotidiana vivendo da grande fortuna herdada. Pagou a instrução de todos os filhos, que seguiram seu futuro sem a dependência paterna. Com a política apenas gastou parte de seu dinheiro. A única coisa boa que conseguiu para a família foi o Cartório para o filho adotivo e cunhado Odilon.
             Entretanto exercia grande liderança no continente, tornando-se referência para os caciques da época, especialmente Nereu Ramos e Irineu Bornhausen, que embora adversários políticos eram seus amigos pessoais.
Joaquim Vaz, foi o primeiro Presidente da Câmara de São José e tomou posse em 30/04/36. Seu curto mandato durou até 10/11/1937, quando Getúlio fechou as Assembléias Legislativas e as Câmaras Municipais do país, instalando o Estado Novo.
Apesar do pouco estudo, Joaquim Vaz tinha uma grande visão e não conheceu miséria em toda a sua vida. Viveu todos os noventa anos gastando a herança. O último pedaço da fazenda de Bom Retiro, vendeu um pouco antes de sua morte, ocorrida em 13 de maio de 1983, no Hospital Florianópolis, onde estava internado devido a um tombo que lhe quebrou a bacia. Inconformado com a duradoura internação foi ficando depressivo, vindo a falecer.
A família Vaz teve uma grande trajetória política em São José. Detentora do poder econômico detinha, por conseqüência o poder político, como de praxe na Velha República.
            O pai de Bernardino, Joaquim Antonio Vaz (1º), avô paterno de nosso primeiro Presidente, veio de Palmas (PR) estabelecendo-se em Tijucas, município no qual também foi Vereador e Presidente da Câmara (1862-1864). Também foi Vereador por São José (1881-1883, 1887-1890), falecendo no transcorrer do ultimo mandato (26.06.1889).
            Bernardino de Senna Vaz, pai de Joaquim, nasceu em Tijucas em 20.05.1855 e faleceu em Florianópolis em 02.08.1923. Foi Conselheiro Municipal de 1907 a 1910 e Superintendente Municipal (Prefeito), de 1915 a 1918.
João Vicente Vaz, irmão de Bernardino Vaz e tio de Joaquim, natural de Tijucas, onde nasceu a 19.07.1853, falecido em São José em 24.06.1941, também foi Vereador (1893/1894) e Conselheiro Municipal (1903/1906).
O outro tio de Joaquim, José Antônio Vaz, que nasceu em Tijucas (15.03.1852) e faleceu no Estreito, em 27.12.1914, também foi Vereador por São José (1887 a 1890), Intendente Municipal (1890 a 1892) e substituto do Superintendente Municipal (1903 a 1906 e 1907 a 1910).
Hildebrando Dinarte Vaz, irmão de Joaquim, nasceu em São José no dia 23.10.1895 e faleceu em Florianópolis em 15.06.1966 também foi membro do Conselho Consultivo (Câmara), de 1931 a 1936.
            João Vaz Sobrinho, outro irmão de Joaquim, nascido em São José em 02.09.1884 e falecido no Estreito em 02.03.1931, também foi Conselheiro Municipal de nossa cidade, de 1927 a 1930.
            O sobrinho-neto de Joaquim, João Vaz Neto, nascido em Florianópolis a 26.01.1938 e hoje ainda vivo, foi Vice – Prefeito do Município no mandato tampão de Constancio Krummel Maciel (14.05.1982 a 30.01.1983), quando Geci Thives renunciou, com seu vice, Waldir Assis Kretzer, para concorrer a uma vaga na Assembléia Legislativa.
A maioria da família Vaz está sepultada no cemitério de São José. 


JOAQUIM VAZ, no Estreito, aos 70 anos, com o filho Pedro Paulo, a nora Regina e o neto Paulo Vicente, recém nascido


JOAQUIM VAZ aos 75 anos


JOAQUIM VAZ na Lagoa, com os netos, fevereiro de 1979