segunda-feira, 26 de novembro de 2012

Memória Política

Carlos Acelino 


Barro Branco dividida

        Em tempos difíceis, o casal Eugenio Raulino Koerich e Dona Zita possuía uma pequena venda em Rancho de Tábuas, Angelina. Semanalmente, abasteciam a carroça com produtos coloniais e seguiam para vendê-los em São Pedro de Alcântara. No retorno vinham abarrotados de produtos necessários à sobrevivência dos agricultores, sal, querosene, trigo e remédios. Numa dessas voltas, um forte temporal os obrigou a pernoitar na casa do amigo Kiliano Kretzer, na localidade de Barro Branco, quase divisa entre São Pedro e Angelina. Nascia ali uma grande amizade. Anos depois, já morando no Sertão do Maruim, retornaram em visita ao casal. Dona Joana estava “embuchada” novamente, à espera de seu penúltimo filho. Não sabia precisar-se homem ou mulher, pois ainda não haviam inventado o ultra-som. Zita Koerich sugeriu a amiga o nome do próximo filho, se homem. Em 26 de dezembro de 1938 nasceu o herdeiro. Em homenagem ao casal amigo, Kiliano e Joana registraram o primogênito com o nome de Aldi Kretzer.
        Kiliano Francisco Kretzer só tinha mais um irmão do sexo masculino, Leopoldo, e uma dezena de irmãs, e era o homem mais rico da região. Fortíssimo comerciante, abastecia todos os hospitais da Ilha e do Continente, a penitenciária, o Abrigo de Menores e centenas de pequenas bodegas. Homem de uma grande bondade, era muito bem quisto e querido por todos. Seu armazém em Barro Branco tornou-se ponto obrigatório de parada. A visível riqueza não o distanciava dos mais humildes, dentre eles o pobre Eugênio, que lutava com poucos recursos pela sobrevivência.
        Kiliano ali nasceu em 8 de junho de 1896. Herdou do pai Francisco Antonio Kretzer o tino para os negócios. Tinha poucos estudos e uma visão futurista invejada.
        Na eleição de 1950, o povo de São Pedro de Alcântara aguardava ansioso o resultado de uma inusitada disputa eleitoral. O poderoso Kiliano do PSD, com seu inseparável chapéu, concorria as urnas com o irmão Leopoldo, de São Pedro pela UDN apurados os votos, o resultado surpreendeu a todos. Kiliano isolado em Barro Branco, ganhou a eleição com 196 votos. O irmão Leopoldo, do Centro da cidade fez apenas 142 e ficou na primeira Suplência. Ambos nunca mais disputaram eleições.
        Filho de Francisco Antonio Kretzer e Maria Schmitt, Kiliano prosperou. Além do grande comércio, era proprietário da Rodoviária Garcia, hoje Santa Terezinha, uma frota de 8 ônibus que fazia a linha Garcia- Florianópolis. Sua casa em Barro Branco era sempre muito visitada e a recepção acolhedora.  Festas de aniversário e casamento viravam a noite. O casamento de Kiliano ocorreu em 15 de agosto de 1926, dois meses após ele completar 30 anos. A descendência numerosa resultou em 11 filhos, sendo 5 homens e 6 mulheres.



 Casa de KILIANO KRETZER – Barro Branco



JOANA SCHMITT KRETZER, esposa de Kiliano, leva o filho Osli ao altar.




quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Memória Política

Carlos Acelino 


Pé De Valsa
 

          O caminhoneiro Miguel era muito assediado. Nos bailes de Angelina, todas as moças queriam com ele dançar. Quando entrou pela primeira vez na cidade, ao levar madeira de Urubici para Santo Amaro, mostrou sua beleza singular e seus dotes de exímio dançarino na festa da igreja. Sendo a estrela do salão, também chamou a atenção da linda Adelaide, filha do homem mais rico e poderoso daquelas paragens. Nascia ali uma história de amor que lutou contra preconceitos e discriminação. Afinal era o belo e pobre caminhoneiro querendo azarar a filha do grande cacique político, cujo casamento só se consumou após sua morte, ocorrida em 6 de agosto de 1942. O pai de Adelaide, Nicolau Antonio Kretzer era homem de prestígio e grande proprietário. Natural de São Pedro de Alcântara, residia na praça central de Angelina, ao lado da Igreja. Foi Juiz de Paz da cidade, Intendente Distrital, Conselheiro Municipal, Superintendente Municipal e Prefeito de São José. Casado por duas vezes; do primeiro casamento nasceu Maria Paulina, que casou com o Vereador Amando Schmitz e os filhos Bertoldo e Quirino Nicolau.  As segundas núpcias foram com a filha de Pedro Bunn, Dona Maria, resultando mais 9 filhos; dos quais Adelaide, o amor de Miguel Souza, e Angélica, que casou com o Prefeito Silvestre Phillipi. Sendo o homem que dava as cartas, é lógico que não via com bons olhos o namoro da filha Adelaide com Miguel e não viveu para assistir ao casamento, que aconteceu no ano seguinte à sua morte, quando Miguel mudou-se para a casa da Praça e assumiu também os cuidados da sogra, Dona Maria Bunn. Miguel Rodrigues de Souza nasceu em Tubarão em 29.09.1917 e, bem pequeno, mudou-se com a família para a localidade de “Atrás da Serra”, Bom Retiro. Seu pai que trabalhava com pedras e rebolos, mudou-se novamente com a esposa e os quatro filhos, dois homens e duas mulheres, para Urubici, onde Miguel concluiu o 4° ano primário. A mãe, Otília Cascaes, foi sua professora. Aos 20 anos conseguiu emprego de motorista de caminhão, no transporte de madeira. Tantas andanças o levaram a Angelina, onde conheceu a futura esposa. Com o falecimento de Nicolau, Miguel montou uma empresa beneficiadora de madeira movida à água, nos fundos da casa e vendia esquadrias, móveis, carrocerias e até urnas funerárias. A vocação política surgiu dos muitos favores que prestava com seu jipe. Por residir no centro, e em função dos bons negócios que fazia, Miguel tornou-se bastante conhecido em toda a região e era procurado constantemente pelas pessoas, que necessitavam de seu veículo nos casos de urgência. Embora seus negócios fossem lucrativos, não fez fortuna, ganhando o suficiente para sempre manter a mesa farta para os 11 filhos e as muitas pessoas que procuravam sua casa. Adorava receber convidados e assar churrasco. O casamento ocorreu em 29 de maio de 1943 e o casal teve os filhos Enio, Jaime de Souza, que foi promotor de justiça e Procurador Geral de Dario Berger em São José e Florianópolis, Nicolau, Maria Celeste, casada com Ailton Laudelino de Andrade, que foi Prefeito por 3 vezes no município de Angelina, Otilia Terezinha, Luiz Carlos, José Emilio, Regina Lucia, Miguel, Lucélia  e Zélia. Embora de pouca formação escolar Miguel era rígido no controle dos boletins dos filhos e, para qualquer nota baixa, não importasse a matéria, ordenava o estudo da tabuada. Cidadão de bom astral, participativo, bom papo, herdou da esposa a religiosidade, freqüentando a missa todos os domingos, Dona Adelaide tocava órgão na igreja e o marido era o xodó das festas, sempre cobiçado pelas mulheres para uma “marca”. O cunhado de Silvestre Phillipi elegeu-se vereador por São José em 1950 e retornou a política em 1959, quando se engajou na luta para transformar Angelina em município. Semanalmente vestia seu impecável terno branco e tomava o ônibus às seis da manhã para o centro de São José, onde participava das sessões da Câmara, retornando só às oito da noite. Como o pai “foi para baixo” a prole numerosa aproveitava para bagunçar. Miguel Souza foi nomeado auxiliar da Coletoria Estadual em 1961, nela permanecendo até sua aposentadoria. Exerceu em vida também as funções de recenseador do IBGE e Presidente do Hospital Nossa Senhora, de Angelina. Na primeira eleição de Angelina, 1963/1967 tornou-se vereador, novamente se elegendo no período seguinte. Nas duas legislaturas foi Presidente da Câmara e em 1968 foi eleito Prefeito, para um mandato de 6 anos. Em 30/07/1982, seguia para casa dirigindo um trator que conseguiu em São José e queria exibir na festa do colono no dia seguinte. Uma crise de labirintite o derrubou da máquina, que tombou na estrada de Santa Filomena, matando-o instantaneamente. Em menos de 2 anos, o filho José Emilio também faleceu de acidente na Avenida Presidente Kennedy. Dona Adelaide, acumulando tantas tristezas, faleceu quando retornava do cemitério, dezessete dias depois.


 Casa de MIGUEL RODRIGUES DE SOUZA – neste local nasceu Jaime de Souza



 JAIME DE SOUZA – filho do Vereador Miguel de Souza e Procurador Geral do Município e de Florianópolis.